sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Quando tento entender
O sentido de tudo,
Deparo-me com o “pra sempre
Tão proferido por nós...
Almejamos a eternidade, sim?!
Lembrar-te-ei ainda que sempre
Sem pressa, Num tempo nosso,
Chamado “pra sempre...”.


Belma Andrade

sábado, 24 de novembro de 2012


Minhas olheiras ressacadas
Pedindo por acalento,
Inebriando como um tormento
Querendo brisa,
Necessitando de tempo...

Meus dissabores
Causando-me tremores,
Trazendo-me rumores
Do que me tem
E do que me quer...

A frase solta
De linhas desconexas
Sombreadas e saudosas
Querendo prosa e verso...

Nem prosa, só verso.
Nem conto, só canto.
Olhares difusos,
Confusos, turvos...
Saudade.


Belma Andrade

sábado, 10 de novembro de 2012


Se eu ousar dizer
Que o tempo não existe?
Seria ousadia demais...
Se eu me permitir ver
Que o que acontece nele
É o que realmente me diz
Se, passou muito, se pouco?
É, seria permissão demais...
Mas, se...
Se eu acreditar que
O que vivi é pouco
Perto do muito que o pouco é?
Estou eu acreditando demais?
Ora...
Ousar, se permitir, acreditar,
É demasiado importante
Para o tempo e seu acaso!
Então se é demais...
Que seja!
O pouco que é muito,
Perto do muito que é pouco,
Que vai tornar as coisas
Senhoras do tempo.
E vice-versa!
Só sei que tem tempo,
Porque muito tempo ainda tem...

Belma Andrade

sábado, 27 de outubro de 2012


Essas turbulações que te rodeia, só te aumentam, pequena. És mais forte do que pensas. És mais tu do que imaginas! Os tombos, os tropeços, os arranhões? Os recomeços estão aí pra isso, pra consertar isso tudo... Pra te guiar e tornar-te ainda mais forte; cada vez mais. Não foi a toa que chegasse onde estás. Que te encontrasse e te fizesse mulher... Não é por acaso que aparentas ser frágil. Esta é, na verdade, uma forma apenas incomum de escudar tua força para que nunca saibam do teu real tamanho e por mais que tentem, nunca saibam que jamais conseguirão te derrubar... Isso tudo porque cresces, evoluis com a ajuda do Sr. Tempo. E isso, já te basta!

Belma Andrade

quarta-feira, 17 de outubro de 2012


E quando sentes
Que teus pensamentos
Estão confiados
Por inteiro alguém,
O que fazes?

Sabe a alma?
Lá dentro, te falando
Que não é
Apenas de um corpo?
Que não se sente
Sozinha e ínfima?

E quando teu cheiro
Esparge-se com parcimônia
Inteiramente livre
Indo de encontro
Ao seu completar?

Na dúvida,
A quietude?
Ou a amplitude
Disso que te embrulha,
Arde-te, te contenta,
Completa-te, te dói...

Sabes do que falo, coração?
Sabes, eu sei que sim;
Aliás, o sentes!

Pois bem,
Solitário não estás,
Então corres atrás
E mantém...
Desse jeito forte,
Firme e futuro...
Ama, apenas.

Belma Andrade

sexta-feira, 21 de setembro de 2012


Que arranquemos nossos próprios sorrisos. Que ensaiemos nossa própria dança ritmada pelo nosso coração e seu tilintar... Que nos sobre vontade, carinho, cuidado, sonhos... Que nos falte rancor, amor de pouco, e sobre café e paciência... Que hajam sempre palavras pra expressarmos nosso tamanho gostar; e essas, quando faltarem, que sobrem olhares incrédulos, porém cheios de certeza daquilo que cativamos tão bem... O nosso lado a lado. Que... Eu te tenha e tu me tenhas. Eu me sinta em ti e tu em mim. Que isso baste para perdurar o brilho dos nossos olhos e frio na barriga a cada reencontro. Aquele cuidar, cativar... Amar. Sabes? Que assim seja!

Belma Andrade

domingo, 16 de setembro de 2012



Eu.

          A verossimilhança de minhas palavras que saem em menor quantidade, só me faz enxergar através dessa fumaça sólida aquilo que eu passo, por ser. E o que transmito, por parecer. O querer dar-se demais. O ter-se demais amor para dar. A verdade que estampa a folha, que carimba o manuscrito. A amostra dela, o sentido. Con(fuso), comp(lexo), subjetivo, primeira pessoa do singu(lar).

Belma Andrade

sexta-feira, 14 de setembro de 2012


Tu me lês
Então me tens em teus olhos.
E como nada passa pelos olhos
Sem passar pelo coração...
Logo, me tens em teu coração,
Olhos, mente, em tu.
Se tu me tens em tu...
Tenho-te também.

Belma Andrade

quinta-feira, 9 de agosto de 2012


- Pare!

        Há de se atentar que era uma fria noite de julho. Noite de quietude, em geral. Mas não para Anna. Ela, garotinha de olhos grandes, profundos, com olheiras que as bochechas faziam questão de mostrar destaque. A respiração, antes taciturna, o olhar, antes turvo, agora abria espaço para um tal inspirar e expirar ofegante; e olhadas fixas como nunca antes fora de costume.
        Anna corria. E corria muito, aliás. Só não sabia ainda o porquê. Não sabia nem onde estava, para falar a verdade. Apenas sabia que era noite e estava frio. Parou de correr. Diante de uma ponte muito bem iluminava estava uma senhora de meia idade. Anna se aproxima. Chama. Nenhuma resposta.
        Fica em frente à senhorinha que tinha os olhos claros, iluminados, a pele um pouco judiada pelo tempo, e com algum grau de surdez, julgou Anna. Tentou falar com ela mais uma vez; agora mais alto e nada de resposta. Desistiu e se afastou. De repente se aproximou dela um garotinho de nos médios oito anos de idade, chamando-a de avó. “Que tolinho”, pensou Anna, por ele chamar ela, já que não ouviria.
        No entanto, bastou o garotinho chamá-la pela segunda vez, ela virou, estendeu os braços para abraçá-lo, e vieram na direção de Anna conversando. Ela, sem entender muito, resolveu chamá-los e perguntar por que a senhora a ignorou quando chamada. Mais uma vez, nenhuma resposta. Nenhum dos dois. Passaram então neto e avó conversando bem ao lado de Anna e sequer os olhares se encontraram. Era como se ela não estivesse lá.
        Novamente, sem entender o motivo, saiu em disparada, correndo muito, ofegante. Atravessou a ponte. Passou por uma pracinha escura, parou numa esquina. Curvou-se, pôs as mãos nos joelhos para tomar fôlego. Olhou em volta, ninguém. “Será que está muito tarde?” – pensou. Olhou para o pulso esquerdo, nada do seu relógio. Conferiu os bolsos, sem celular.
        Quando menos esperava, um gatinho vira-lata saiu de uma rua correndo muito, como que espantado. Anna chamou-o. Gostava de gatos. E outra vez, nenhum reflexo do seu chamado. Seu coração acelerado, ainda um pouco ofegante e com frio. “Onde estava?”, “Para onde fora todo mundo?”, “Por que não a ouviam?”, passaram a ser os lamentos pensados de Anna.
        Como num súbito, da mesma rua que saíra o gatinho correndo, apareceram três moleques. Falando alto e gesticulando bastante. Um deles sem camisa, os outros dois com celulares na mão, Anna pensou em solicitar-lhes a hora. No entanto se deu conta que estava sozinha e nem sabia onde estava. Lembrou dos conselhos sobre não falar com estranhos, ainda mais num lugar estranho. Ficou quieta, esperando passarem.
        Pararam, começaram a discutir, mas Anna não entendeu o motivo. Apenas observou. Surgiu um revolver no meio da confusão. Olhou em volta, ninguém. Dessa vez ela desejava que realmente não a vissem. E seu desejo se fez. Um dos moleques, que estava sem camisa, correu de perto deles, e veio em direção à esquina. Anna se virou um pouco, como que se preparando pra correr. Deu as costas e correu.
        Eles agora falavam ainda mais alto e, de repente um deles, o que estava com a arma em mãos, gritou “-Pare!” e Anna parou. Trêmula, suando frio, com as mãos geladas de medo e o coração em corrida. Não se virou, apenas gritou “-Por favor, não façam nada comigo. Quero apenas voltar pra casa!” Mas o moleque mandou outra vez alguém parar. Pelo visto, não era Anna.
        De fato, o moleque chamara apenas aquele outro que estava sem camisa. Anna se virou um pouco pra tentar entender. Mas ele não parou, continuou andando. Já furioso, o que estava com a arma na mão, posicionou melhor o revólver como que buscando mira e levantou apontado para o que continuava andando, sem olhar pra trás. Anna não conseguiu se mover. Estava como congelada e apenas gritou.
        “Não faça isso! Pelo amor de Deus, não faça isso!” E nada de resposta mais uma vez. Anna correu de encontro ao que estava sem camisa e pediu para que parasse de andar, mas ele não respondeu. Sequer parou de andar. E novamente era como se Anna não estivesse ali. Chegou perto dele, na intenção de puxá-lo e intervi-lo. Mas nada alcançou. Sua mão parecia estar invisível. Aliás, ela parecia estar assim esta noite.
        Foi mais pra perto, tentou puxá-lo mais uma vez enquanto o outro continuava gritando em alto tom de ameaça. Correu o braço nele e nada sentiu, nem se fez sentir. Atravessou o corpo do moleque como se ela o observasse, mas não fosse corpo. Gritou em desespero e nada. O gatilho estava prestes a ser puxado na mão do outro moleque nervoso; encaixado em seus dedos.
        O coração de Anna acelerou ainda mais, não sentiu mais frio, apenas medo. Gritou até sua garganta pedir clemência num pigarro seco. Tossiu. Pôs as mãos no ouvido pra não ouvir as ameaças do moleque, não ouvir barulho de tiro, gritou ainda mais. Sentiu seu sangue fervilhar. Fechou os olhos e quando já não aguentava mais, e, quando já estava sem voz, deixou-se cair no chão. Não sentiu o chão, afundou, caiu, caiu... E, abriu os olhos de repente!
        Agora sentia onde estava e se sentia. Sua cama quente e seus lençóis revirados. O travesseiro no chão e a garganta intacta. Fora mais uma daquelas noites inquietantes de pesadelos. Ainda estava meio confusa. Chamou a mãe e de imediato esta lhe respondeu, dizendo que seu leite estava lhe esperando quentinho e com torradas no prato. Anna sorriu. Começou a cantarolar... 

Belma Andrade

terça-feira, 7 de agosto de 2012


É... Não tem jeito.
Não paro na primeira esquina.
Não desisto desse correr dilacerante.
Se soubesse do gosto que vem
Se amargo ou meloso,
Só seria manhoso todo saber...
Não desisto. Não me tentes.
Suspiro com a noite
Que vira do avesso e traz
O raiar mais saboroso
De uma nova prosa, novo verso,
Conto novo de ser contado.
Se não me der chances,
Quem mais dar-me-á?
E se oferecerem, nego.
Traço esse trato torto.
Uno o bater acelerado de outrem
Junto ao meu por ser teimoso.
Sou crente, sou cética, sou eu.
Sou querer, mesmo sem querer.
E ainda tombando e me rebelando,
Não freio uma corrida,
Não estaciono e me direciono...
Deixo apenas ir, apenas correr...
Não de modo avulso, deixado...
Mas de modo meu, levado. 

Belma Andrade 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012




A fumaça densa
Subindo da minha xícara,
E passando
Por entre meus olhos
Assemelhando-se
Às nuvens ralas
Desfilando em frente
Da pudica sem pudor
Mais brilhosa
E em polvorosa
De tantas as noites...
As lentes
Dos meus óculos
Ofuscam-se.
E mais uma vez
Comparo o luar
Que está hoje desfocado,
Um pouco arado,
Mas trazendo um calor
Similar a esse golado
Agora até à borra
Do meu último grão
Da estrela ao lado
De um pedaço de chão
Do luar torrado...

Belma Andrade

quarta-feira, 11 de julho de 2012


E não existe essa de camuflagem absoluta e autocontrole intacto. Haverá sempre algo que há de ser o fora da razão. Haverá sempre aquilo que te rouba o fôlego, te tira o foco e te desprende os pés do chão. O ser humano é e deve ser imprevisível. O desejo de domínio e o cuidado nas mãos vai sempre existir. Mas deve restar aquilo que despondera e segue os instintos. É isso o que faz o ser, ser. Humano. É isso o que exala pelos poros. E é o que deve ser deixado, respeitado e natural...

Belma Andrade

segunda-feira, 2 de julho de 2012


Em/encanto

Aqui, no canto,
Me conto como
Sendo uma menina
De em/ encantos
Encantos diversos, aliás!
Em cantos
Nos mais diferentes,
Encanto-me!
Encontro-me
Com o rápido,
O fugaz, os banais,
E em cada canto
Dentro de contos,
Percebo encantos
De nenhum outro
Possível encanto...
Em cantos
Lá nos contos
Não encantados,
Mas contados
Que me trazem
E inspiram
Outros contos e cantos,
Onde em cada canto,
Traz-me um encanto...

Belma Andrade

segunda-feira, 18 de junho de 2012


Uma proteção Lunar



A voz desnorteada
Cortando o silencio
Daquele luar...
As nuvens que antes
Parecia-me algodão,
Mostraram-se
Como cobertores
No desejo saudoso
De proteger
Tamanho brilho...
Penso eu cá dentro
Sobre tal ciúme
Ou mesmo cuidado
Das nuvens com Ela...
Ela que a voz vem
Sussurrando-me,
Pedindo-me
Para saudá-la
E perceber
Que seu silencio,
É na verdade
Um grito no escuro
Da nomeada Lua
Para matar a saudade
Mesmo que de leve
De corpos divididos
Que apenas desejam
Fazer como as nuvens
E a Lua:
Completar-se!

Belma Andrade

quarta-feira, 13 de junho de 2012


Eu escrevo por mim,
Mas leio por ti...
Eis então o escrevente
Da lei do leitor.
Diga-me, clareia-me
A mente.
Aquilo que queres
Encontrar aqui,
Em meus dizeres...
Aprofunda minhas buscas
Pelas palavras
Mais insensatas...
Atraia-me
Com saberes teus;
Mas não traias
Os desejos meus.
Leia, decifre,
Até decodifique...
Mas não modifique
Em demasiado
O meu dizer,
Basta apenas
O meu querer
De escrever-te algo
Aqui e acolá
Para tudo unir
E então assimilar.


Belma Andrade

sábado, 2 de junho de 2012



Parei e sentei junto à estrada,
Fiquei observando os galhos
Das árvores dançando juntos
No ritmo do vento e levando
Algumas folhas para passear...
Levei as mãos até meu rosto
E o senti cheio de pó...
Pó de areia, poeira, trazida
Lá de longe, lá de onde?
Lá de onde eu não sei,
Lá de onde eu quero descobrir...
Fico cá sentada no canto
Apenas observando ao meu cercar
E penso o quão infinito é
O mundo e tudo o que eu
Ainda tenho por descobrir...
Tudo o que, ainda posso sentir...
Quero decifrar recantos e cantos
Dos pássaros que me passam
E ver o vento num ventilado
Que me traz logo ao lado
A sensação que posso viajar
Junto à estrada de terra
Que traz pedras e folhas
De onde eu nem imagino que vejo.
Paro, sento, observo, sinto, viajo...
Descubro. Como um punhado de chão
Nas palmas de minhas mãos
Tateando cada grão de terra
Que me traz ar, que me faz pisar...

Belma Andrade

quarta-feira, 23 de maio de 2012



Rasguei as folhas
Onde escrevia
Com tinta vermelha
E força na mão
As palavras
Que me controlavam...
Abri as janelas
Para deixar entrar
E soprar meus cabelos
O vento solto
De algo menos
Auto-controlado...
Passei então
A viver tudo...
Tudo mesmo
Que a vontade
Invadisse-me...
Fui deixando
Mostrar-me eu
E permitindo
As vontades serem
Mais do que
Apenas vontades...
Passei a ver
Que não apenas via,
Mas que também sentia.

Belma Andrade

sexta-feira, 11 de maio de 2012



Eu poderia fazer
Uma abertura
De meu corpo
E descobrir até
A última víscera
Pulsante
Com a explosão
De sangue corrente
Dentro de mim...
Poderia enxergar
De perto tudo
O que me corre
E que me escorre
Por dentro...
Mas, eu queria
Ir mais além!
Sim, mais.
Fazer uma abertura
De minha alma.
Descobrir não só
O meu sangue quente,
Mas por que
Ele esquenta...
Sentir não só
Minhas pulsações,
Mas também
O porquê
Do meu pulsar...
Ouvir não só
O meu coração,
Mas sentir um eco
Ensurdecedor
De suas batidas
Sentidas pelo por que...
Cansei do óbvio,
Do palpável,
Quero mais também
O inimaginável,
O sentido, a fuga,
A plenitude...
A abertura completa
De uma alma...
...livre.

Belma Andrade

sexta-feira, 4 de maio de 2012


Romance que é romance
Daqueles verdadeiros,
Que arrancam desejos
E suscitam suspiros,
Jamais deve ser adormecido,
Levado no tempo,
Deixado ser esquecido...
Romance que é romance
Daqueles verdadeiros
Deixa marcas fincadas
Lá dentro na alma
E por mais que acabe
-porque sim, eles acabam!-
Sempre será recordado
Com aquelas palpitações
Lá, no coração...
Romance que é romance
Daqueles verdadeiros
Será sempre por si só
Algo inesquecível
Que nunca deixará
De ser nele mesmo
Aquele que abobalha,
Que faz quem está
Por ele perseguido
Ser um romancista
Jamais guarnecido
Por não conseguir
Nunca estar munido
Contra um outro novo
Romance que é romance
Daqueles verdadeiros...

Belma Andrade