terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Roseira

Quando abri meus olhos
de manhã, no jardim,
vi naqueles botões -
de rosas - minhas vontades.
Pude enxergar que ali
algo desabrocharia aos poucos,
demonstrando um desejo
absoluto de nascimento.
No entanto, também mirei
nas pétalas murchas
e já tão esbofeteadas
pelo vento, pelo tempo
minhas manias e desgostos.
Quando percebi, ainda
que o que cerceava
tudo isso, eram espinhos -
firmes, fortes e afiados,
nada mais vi,
do que meus anseios trôpegos,
que me machucavam
sempre que encostava neles.
Pude observar, então,
que não podia ter tudo.
Que haveria de decidir
entre meus desejos nascentes,
minhas manias já recorrentes
e os fantasmas cortantes.
Vi mais ainda:
se continuasse nesse ritmo
assustador de nascimento,
crescimento involutivo e medo,
jamais floresceria intimamente.
Vou regar melhor este jardim,
transformando os botões 
em sonhos possíveis,
as pétalas em amadurecimento
e os espinhos em companheiros.
Nada melhor do que 
um corte conhecido para podar
as raízes já apodrecidas.



Belma Andrade