segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Ainda me lembro bem de quando
Atravessava aquele cruzamento
E era o ônibus do teu bairro
Que eu ansiava chegar.
Hoje, se eu o vejo passar,
Nada mais me lembra
E nada mais leio, além de saudade.
Aquelas horas engarrafadas
Naquele clima tão denso,
Tudo tão disforme de onde
Eu estava acostumada a estar,
Mas se era pra a saudade matar,
Tudo era mínimo, perto da vontade.
Hoje vou, volto, não te vejo mais.
E dói. Uma dor diferente.
Porque não queria mais
Atravessar aquele cruzamento
E esperar teu ônibus passar,
Nem enfrentar aquele ar
Difícil de respirar pra matar
Algo aqui dentro. Porque cessou.
É, estancou. E é isso que dói.
Leio em todos os letreiros,
As placas, os anúncios, TUDO
Uma só palavra. Ela mesma.
E diferentemente, de antes,
Não desejo mais matá-la.
Deixo só o ônibus passar,
O ar descondensar, e a vontade cessar.

Porque cessa. Porque dói, mas cessa



Belma Andrade 




*Foto: Gabriela Monteiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário